Respeitar escolhas é preciso. Escolher também!
26/01/2024 14:52 em Comunicação

Introdução

 

Este artigo trata de conceitos e hábitos comuns, não necessariamente negativos ou nocivos, mas, que podem ser eliminados ou melhorados.

São propostas ponderações para suscitar inquietação e interesse de experimentar mudar percepções, metas, e meios para concretizá-las, com a confiança de que se pode vir a obter melhores resultados a partir dos recursos que, a princípio, qualquer pessoa dispõe, ou, deveria ou poderia dispor.

Com situações cotidianas espera-se facilitar a identificação do leitor com as mesmas, para que se comunique com o artigo de modo mais atento. 

O leitor que sentir que as abordagens do artigo lhe soam próximas, íntimas, poderá, eventualmente, questionar se está satisfeito com seu jeito de pensar e agir, com seus propósitos e resultados. 

O objetivo geral é suscitar a percepção de que a mediocridade é só estar na média, viver ou sobreviver até com êxito, mérito e satisfação, mas, aquém de patamares melhores e acessíveis a quem se disponha. Especificamente se enfatiza que o temperamento pode ser bem conhecido e administrado, e potencializa o caráter, aquilo que verdadeiramente cada pessoa é. Empreitada que exige percepção, escolhas, vontade e apreço pelo esforço.

Aceitando e respeitando discordâncias parciais ou totais, o artigo defende que a sociedade, quanto mais evoluída tecnologicamente, ainda que o acesso e consequências não sejam pautados pela justiça e igualdade, maior a necessidade de resgatar e disseminar a real e elevada formação pessoal.

Via metodologia bibliográfica, leituras reflexivas em fontes antigas e atuais, na diversidade de abordagens que convergem essencialmente: às pessoas é dada a possibilidade de viver ou sobreviver de modo mediano ou medíocre ou existir de modo excelente, diferenciado, notável. 

O artigo primeiro celebra a internet, porém, não dá a ela o atributo que não tem e cabe a cada pessoa: conhecer a si mesma; deliberar, decidir e agir. Daí, proclama ser possível a realização ao nível da mediocridade, com elevada concorrência; e sugere ir além e objetivar, com maior esforço e menor concorrência, a realização plena. 

 

Com ou sem internet a pessoa é a protagonista

 

Nunca se teve acesso instantâneo e inesgotável a dados – mesmo que não para todos e de modo igualitário. Dados, que não são informação, mas, necessários à construção dela, que não é conhecimento, mas, necessária à sua construção, que não é sabedoria, poderá vir a ser, dentre outras inevitáveis experiências, após erros. Esses, a princípio no limite do inevitável, comumente antecedidos por outros, deletérios, por causa de um comportamento de pessoas que se acham modernas por serem conectadas à rede mundial de computadores: desprovidas dos predicados que supõem ou simulam possuir – ou não conseguem dimensionar a contento – nela não sabendo navegar, afundam em superficialidades e precariedades angariadas anteriormente e à parte dela, enganadas por errôneas percepções e conclusões acerca de si próprias, de terceiros e de determinantes acontecimentos, assuntos e atividades. E, mesmo que se escondendo em avatares, pseudônimos, tratamentos de imagens, exageros, fantasias, ostentações, pelos conteúdos que produzem ou repercutem, e o modo como o fazem e se comportam ante as consequências que lhes sejam agradáveis ou não, logo começam a ser notadas pelo que são e não pelo que pensam ou simulam ser: cedo ou tarde, inapelavelmente migradas da virtualidade excelente para a realidade menos qualificada e até medíocre, carente ou indigente. Facílimo deparar com quem seja e se comporte assim, questione e condene tal comportamento e tudo a ele vinculado, mas, se ofenda ou se irrite se alguém lhe alertar ou acusar de ser equivalente ao que e a quem critica, desdenha, julga e condena! 

É comum confundir poder com autoridade, fama com importância. Com ou sem mídia, tende-se a aprovar pessoas com poder, fama e agradáveis às próprias conceituações e conveniências individuais, pautadas mais ou somente pelo emocional e pouco ou nada pelo racional. Apoio e tolerância costumam ser amplos com quem haja concordância, pouco, menos ou nada importando se existe suficiente fundamentação, isenção e adequação. Isso em relação a quem seja conhecido localmente. Pois, quando envolvidos poderosos e famosos, quanta vez, avança-se (ou regride-se?) para idolatrá-los, e o apoio e tolerância serão mais determinados, inegociáveis e obtusos, ao ponto de se fazer cego perante comportamentos insustentáveis à luz da lei, da moral, da ética, de mínima razoabilidade segundo o senso comum; e não percebendo ou admitindo o quanto se está equivocado e até se prejudicando.

Como nunca antes, todos fazem comunicação, são simultaneamente emissores e receptores, com possibilidade de alcance global e imediato; como sempre, e mais que antes, a quantidade é incalculável. Entretanto, nesta era da pós-modernidade, especialmente, com o advento da internet ficou mais complexo mensurar a utilidade, qualidade, veracidade, equidade de conteúdos, notadamente, os que balizam comportamentos. 

Enquanto as mudanças tecnológicas e comportamentais são muitas e aceleradas, cresce a preferência pelo embate, em detrimento do debate, sob a forma grosseira do bate-boca, com carência de diálogo, empatia, alteridade, fundamentação e argumentação entre defensores e opositores – e até detratores. Nas redes sociais, nos espaços para comentários dos leitores nos portais de notícias e afins, os mais fundamentados e razoáveis geradores, divulgadores e comentadores de conteúdos poderão ser tratados como imbecis e párias, execrados, ‘lacrados’ e ‘cancelados’. E geradores, comentadores e divulgadores de conteúdos insustentáveis e desonestos, ignorantes acerca daquilo que se põem a posar de especialistas, mas, se carismáticos, competentes na arte da autopromoção e bem assessorados, alcançarão ou ampliarão seu poder, fama e elevado saldo na conta bancária. Podendo ser de antemão conhecidos ou anônimos que, pela bem vinda acessibilidade da internet, amealharam milhares ou milhões de seguidores; tornando-se influenciadores digitais, sendo relevado o nível de sua formação, valores e intenções, enquanto deem ou possam dar retorno comercial e ideológico a grupos naquele momento poderosos e interessados em, por seu intermédio, influenciar fãs, fiéis, clientes, eleitores, torcedores etc. 

Segundo Umberto Eco (2015, durante cerimônia na qual recebeu outorga de doutor honoris causa na Universidade de Torino), “a internet deu voz a uma legião de imbecis!” A polêmica afirmação do filósofo, romancista e comunicador conhecido e respeitado mundialmente causou uma enxurrada de críticas entre os internautas, principalmente; em contrapartida, suscitou reflexões interessantes e úteis para que se tenha consistência real no meio digital. 

Cada vez mais pessoas são péssimas consumidoras e ótimas consumistas, não se flagram ou admitem vítimas de conceitos e hábitos obsoletos, equivocados ou altamente questionáveis, superficiais em assuntos essenciais; muitíssimas são fundamentalistas sem anterior aquisição de conteúdos fundamentais ou os adquirem e não sabem lidar equilibradamente com eles: formatam-se assim desde crianças, geram filhos e dão-lhes isso por herança, contribuindo para tornar popular e comemorado o que deveria ser impopular, lamentado e eliminado... 

Essa formação e comportamento comuns seriam mais desculpáveis entre os ainda não internautas? Por que o nível elevado de instrução, cultura, informação, experiência e idade nem sempre é suficiente para sair dessa mesmice? O acesso regular à rede mundial de computadores mais revela e gera pessoas medíocres ou ajuda a sair da mediocridade?

A tecnologia proporciona inesgotáveis possibilidades de ampliar os níveis de instrução, cultura, erudição. Um jovem de hoje tem acesso a mais conteúdo do que tiveram reis, ditadores, professores, pensadores com reconhecida contribuição à sociedade em que viveram no século anterior. Entretanto, o mais atual programa de computador, as redes sociais e habilidade para seu manuseio não resolvem duas questões fulcrais! 

Primeira, ninguém se tornará exímio cozinheiro, médico, orientador emocional e espiritual, por exemplo, só à base de tutoriais, cursos e outros recursos online: por mais que profissões desapareçam e novas surjam, que atividades e saberes possam ser integrais no modo virtual, certas atividades, competências, habilidades só se vai consolidar com prática constante e real. Por isso o ensino à distância pode ser excelente, porém, não consegue prescindir de aprendizados e experiências resultantes da antiquíssima, vanguardista e inovadora relação interpessoal, presencial, resultando subsídios essenciais para a edificação dos predicados viabilizadores da relação intrapessoal saudável. A internet e toda a tecnologia estão para caminhar conosco, a nosso serviço e não em nosso lugar, nos podem e devem substituir em todas as tarefas repetitivas e nas quais serão mais ágeis e precisas, para nossa segurança, inclusive. Toda a inteligência artificial é criação da nossa inteligência natural e aquela deve estar a serviço desta: nunca o contrário!

Segunda e tão importante quanto: as pessoas que mais se deram ao apreço pelo esforço, pelo trabalho, pelo estudo, pela geração de conhecimentos, pelo atrevimento da criatividade e da inovação, com coragem de assumir riscos, a começar pelos contidos no processo de autoconhecimento, foram as que realizaram a diferença em prol da evolução da humanidade e dos seus propósitos, mesmo que, quanta vez, maus. 

A criatividade é a capacidade de: associar, selecionar, reestruturar, organizar e transformar as experiências passadas e os conhecimentos e percepções presentes, produzindo combinações únicas. Com esse processo obtemos gratas surpresas, diferentes e novas tanto para a pessoa, como para o entorno. Às vezes julgamos que a criatividade é puro dom, talento natural. Na verdade todos têm possibilidade de desenvolver habilidades e qualidades criativas, cada um de acordo com a sua potencialidade básica natural, e por isso sempre é possível esse desenvolvimento (SERTEK, 2006, p. 215). 

Quem não se contentou em ser medíocre esforçou-se e trocou mera figuração pelo protagonismo em sua existência. Apesar de a internet e toda moderna tecnologia serem indispensáveis, de serem utilíssimos para o aperfeiçoamento pessoal e profissional, serão úteis de forma diferenciada para as pessoas que constatarem que a mediocridade grassa, não é por si só um erro ou garantia de derrotas e insatisfações, comporta medíocres com destaque positivo, mas, não lhes bastará! E daquele ponto em diante dediquem-se com afinco a deliberar, decidir e agir para excluir a mediocridade e incluir a perfectibilidade em sua dignidade, seu temperamento, seu caráter, seu agir, suas atitudes, seus hábitos, seu comportamento, seu testemunho, seu ser! Esta escolha      preferencial, definitiva, incomparável pode e deve se valer da internet e de qualquer tecnologia, porém, em essência, além de anterior, é independente dela!

Continuarão maioria os que estudam por obrigação e não com conscientização e satisfação, que preferem colar, decorar e piratear conteúdos alheios e – acomodando-se como apenas copiadores ou imitadores e não criadores – dispensam estudar, aprender e gerar conhecimento efetivamente. Não é casual que milhões sequer concluam o ensino fundamental, que elevada parcela dos que concluem o ensino médio, técnico, superior – incluindo especializações – obtenha certificados sem saber ler e escrever satisfatoriamente o idioma pátrio: indicativo de que o formando corresponde mediocremente e não notavelmente ao título contido no documento de conclusão de curso, incapaz de desenvolver raciocínios e argumentos bem elaborados e fundamentados. 

Num país majoritariamente constituído por cristãos, natural agradecer a Deus pelo curso concluído quanta vez de modo preguiçoso, desonesto e nada correspondente a Ele, acorrendo a uma celebração litúrgica na qual se solicita a bênção ao formando falso cristão e ao seu imerecido certificado: a chancelar a inclusão de mais um indivíduo legalmente liberado para exercício profissional e pouco apto técnica, acadêmica e cientificamente, e eticamente, principalmente. Para quem se acha e se diz Seu seguidor: o comportamento mais denunciado por Jesus Cristo foi (é) a hipocrisia... Portanto:

A vivência da fé na sociedade atual é geralmente exercida numa religiosidade não institucional e sem comunidade, mais ligada aos interesses pessoais. A busca de curas e prosperidade propiciou o crescimento de novos grupos religiosos que prometem soluções imediatas às demandas da população, especialmente carente de recursos e de atendimento de saúde. De outro lado, aumentam as estatísticas daqueles que se declaram sem religião, inclusive muitos que foram batizados na Igreja. Acreditam em Deus, mas não querem laços de pertença com uma comunidade religiosa (DOCUMENTO 100 CNBB, 2014, p. 24).

A alimentar isso, quase dez por cento dos brasileiros são analfabetos totais e grande parte dentre os demais se faz de analfabetos funcionais. Diante de um computador ou dispositivo móvel, muitos mal sabem ainda o manuseio básico e constituem os analfabetos digitais. Os três analfabetismos são como três pesadas bolas de ferro acorrentadas ao pescoço. O pesadíssimo analfabetismo total é o mais antigo e menos pesado, por afetar menos pessoas e ser explícito para identificar. O mais pesado e maléfico é o analfabetismo funcional: embora sua existência indique a eliminação do analfabetismo total e sua eliminação tenda a garantir a eliminação do analfabetismo digital, é difícil mensurar com extrema precisão, afeta a maioria da população brasileira, muitas das suas vítimas o apontam noutras pessoas, mas, raras se admitem como vítimas e agem... Você seria? E o autor do presente trabalho? 

As ponderações até aqui realizadas estão no contexto do que vige historicamente e tem sido fundamental para que o Brasil teime em ser um país pouco avançando no desenvolvimento da formação pessoal plena, que deveria ser a mola propulsora da formação técnica real e diferenciada e de tudo o mais: para vir a ser desenvolvido moral e eticamente! 

Considerando a habitualidade com que eleitores costumam proporcionar que nas urnas sejam eleitos e nomeados, com exceções, agentes com projetos de poder e não de governo, políticos institucionais ou partidários inaptos ou desinteressados em fazer política e ávidos por fazer politicagem: a pouca consciência e convicção de que precisam proporcionar sucessivos estadistas – que, com seus grupos e maciça adesão das instituições e população, pensariam e agiriam concretamente pelas próximas décadas do país e não para a próxima eleição de si e de seus partidários, aliados da e de ocasião – contribui pouco ou muito para com os históricos problemas que afetam a sociedade? Não parece acidental que: 

Constatamos um certo progresso democrático que se demonstra em diversos processos eleitorais. No entanto, vemos com preocupação o acelerado avanço de diversas formas de regressão autoritária por via democrática que, em certas ocasiões, resultam em regimes de corte neopopulista. Isso indica que não basta uma democracia puramente formal, fundada em procedimentos honestos, mas que é necessária uma democracia participativa e baseada na promoção dos direitos humanos e no respeito a eles. Uma democracia sem valores como os mencionados torna-se facilmente ditatura e termina traindo o povo (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2008, p. 43).

Ainda dos eleitores: costumam ignorar o funcionamento dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Tribunais de Contas; agir como destemperados e desinformados torcedores de futebol em defesa da sua condenação a todos os políticos ou adesão servil a um deles, grupo ou ideologia; se vender por serviços que mais simularão que farão e por votos que prometerão e dificilmente darão; pedir empregos e sujeição a assistencialismo rasteiro na forma de pedidos de cadeiras de rodas, muletas, dentaduras...

Celebrando a liberdade religiosa que grande parte dos povos não possui, defendendo que haveriam de existir dispositivos legais para inibir abusos: o cristianismo sempre foi contradito pelas separações e de décadas para cá mais ainda – nasceu no judaísmo, também vítima de divisões, assim como se dá com demais religiões. Empreendimentos com nome de igreja têm abertura mais rápida, fácil e barata, a administração tem flexibilidades inalcançáveis por uma empresa, fundadores se autoconcedem títulos clericais mediante critérios estapafúrdios; quantos são um misto de palco, balcão de negócios e palanque eleitoral,  Deus reduzido a cabo eleitoral e garoto propaganda, críticos e o que mais for considerado ruim são taxados de demônios a serem vencidos conforme se convertam, paguem dízimo alto ou humilhados em exorcismos canastrões. 

Um olhar pela televisão deve ser suficiente para se ver em alguns casos a eterna presença dos mesmos pregadores em vários horários, dizendo as mesmas coisas e tendo as câmeras a maioria do tempo apontadas para si mesmos. Isso ocorre em todas as Igrejas que operam na televisão. Assim, é mais do que comum encontrar hoje pregadores que, mesmo com boa-fé: levam sua imagem-símbolo aonde vão, mesmo a programas de televisão aos quais a Igreja coloca severos reparos; conversam com uma imagem como se orassem àquele gesso e não à pessoa que o gesso representa [...]  A impressão que fica é que o pregador está conversando com a imagem [...] É o símbolo não explicado [...] Anunciam hora e data para a possessão e, assim que começa o culto, na hora certa, obediente ao regulamento, o demônio se apossa do fiel, num flagrante ato de manipulação. É o demônio obediente, mais submisso do que submetido, chamado naquele horário, naquele templo, que aceita os pescoções do pregador, e diz sempre as mesmas coisas que o pregador espera que ele diga (ZEZINHO, 2004, p. 26). 

Na Igreja original e nas suas dissidências sérias são demais os membros e líderes não sérios: ao contrário dum dito popular equivocado, política e religião se misturam historicamente; quando mal entendidas ou usadas para o mau, protagonizam parceria abjeta na qual são instrumentalizadas por oportunistas... 

Entre os fiéis religiosos é comum deparar com adeptos de discursos e aparências muito aquém e até conflitantes com seus intentos e comportamentos, e entre honestos comumente pairam equívocos de achar que basta viver orando e não fazendo o mau, esquecendo-se de que fazer o bem é fundamental e coerente, que o bem limitado a testemunhos orais e orações de louvor e súplica também é ou pode ser hipocrisia, à qual se soma a mania de terceirizar a Deus responsabilidades: somando os conscientemente falsos com os que não têm tanta consciência de sê-lo e os comportamentos mais corriqueiros entre todos, fartos de superstição assimilada como se fora fundamentação, está constituída a maioria da população... 

Por mais que contrários a interesses obtusos ou infames, promover o ecumenismo e diálogo inter-religioso é cada vez mais inócuo ou necessário? 

Falta de fundamentação e de retidão e sobra de contradição é típico de pessoas, na gestão da sua espiritualidade, com ou sem fé e religião, com fé e sem religião, com religião e sem fé...

Por essas e outras resulta o assassinato lento do planeta; cursos técnicos, de graduação e especialização de qualidade pouca; voluntariados com segundas intenções e nada abnegados. Cidadão que faz ultrapassagem pela direita ou acostamento, compra carteira de motorista, simula vocação para ser sustentado por comunidade religiosa, exige favores sexuais em troca de emprego, usa para fins particulares não autorizados internet e impressora do empregador, solicita ou emite atestados médicos falsos; e infinidade de comportamentos inerentes ao indivíduo desprovido de bom caráter, ainda que escondido atrás do status ou disfarce de lisura: multidões são assim e vivem convictas da própria honestidade e a se indignar, esperar e exigir retidão de outros!     

Passa ao largo da percepção ou preocupação da maioria das pessoas o fato de que a farsa ou o faz de conta, os círculos viciosos geradores e frutos desse misto de obsolescência com indigência comportamental estão historicamente nas entranhas da sociedade, com as peculiaridades de cada povo e região; e não somente entre aqueles agentes, instituições e atividades tradicionalmente destinatários da execração constante. Como solucionar o que é insolúvel em sua totalidade e sempre será? 

 

A mediocridade não impede realizações mesmo com maior concorrência, porém, superá-la, embora exija mais, reduz a concorrência e potencializa a plena realização!

 

Num mundo cada vez mais competitivo, exigente, desigual, acelerado e em constante mudança, como ser pessoa, profissional e empreendedor tão importante e indispensável quanto é a tecnologia?

Em variáveis circunstâncias e níveis, ao longo da vida as pessoas tendem a melhorar, se corrigir e evoluir: o ser humano sadio mentalmente poderá experimentar situações que venham a gerar a percepção do quão medíocre e até insignificante tem sido a sua vida; ansiar por uma nova vida que terá tudo para vir a ser plena a partir de um evento impactante e marcante ou a partir de série de eventos menores ao longo de espaço de tempo maior, mas, importantes, interligados, de resultados longevos, definitivos e a aperfeiçoar constantemente!

Com nossas idiossincrasias somos ou deveríamos ser livres para realizar escolhas, cientes que nossa liberdade interage com a liberdade dos demais, que poder realiza-las não equivale a que todas devam ser feitas, nem sempre resultarão em acertos ou serão tidas como tais; e definir o que é liberdade, acerto e erro é variável conforme região, época, costumes... Entretanto, a opção preferencial e real pela retidão com fundamentação consistente, constante e coerente viabiliza e potencializa a pessoa ser protagonista, notável e respeitável perante as demais que escolhem e se esforçam ao mesmo – e perante as outras; opção preferencial edificada e consistentemente testada ao longo da história: antiquíssima, atualíssima, inovadora e indispensável – para quem a perceba assim, com ela se compromisse e por ela se dedique!

As ponderações aqui promovidas podem ser experimentadas como se fossem tijolos para obras inacabadas e em andamento, inacabáveis e imperfeitas, porém, perfectíveis. Gente em constante processo de aperfeiçoamento, que já é ou caminha para vir a ser diferenciada, a quem se poderia aplicar o lema da web rádio Plena, de Curitiba PR – radioplena.com.br: “Para quem é notável pelo que é, e não pelo que faz de conta ser” (José Carlos de Oliveira, 2011).

Qualquer um pode aprender que o temperamento, dado pela natureza, pode ser conhecido, melhorado e bem administrado; que o emocional nunca se poderá administrar totalmente, mas, racionalmente se pode e deve administrá-lo ao máximo, o que inclui, eventualmente, deixar que as emoções fluam livremente; que o caráter é o que a pessoa é, que o status é o que ela pensa ser, encena ser e pensam que ela é, e que o ideal de quem confere alto valor à própria dignidade é esforçar para que este corresponda cada vez mais àquele...

Qualquer um pode aprender o que é ideologia e propaganda ideológica; o que é fato, boato, versão, opinião e ponto de vista e saber identificar e distinguir cada um; e saber-se simultaneamente receptor e emissor...

Qualquer um pode aprender que gentileza é mais que educação, que vontade é mais que desejo, atitude é mais que ação, agir é mais que fazer, entusiasmo é mais que motivação, crer é mais que acreditar...

Qualquer um pode aprender que virtude é o oposto de vício e que uma e outro não andam sós: que aquela gera e amplia outras e este gera e amplia outros; elas e eles germinam e se mantém no caráter da pessoa, como joio ou trigo...

Qualquer um pode aprender que moral estabelece o que é certo e o que é errado e varia conforme a época, lugar e outros fatores tais como religião – um Deus que vê tudo, tudo sabe e perfeitamente recompensa ou pune, conforme ensinam as tradições monoteístas, que, em quantidade, alcançam a maioria da população mundial...

Qualquer um pode aprender que etiqueta ou pequena ética, muito mais que saber quais talheres utilizar num jantar requintado, é o que o indivíduo faz para não incomodar outras pessoas, não arrotando na frente delas, por exemplo...

Qualquer um pode aprender que ética estabelece o que é bom e o que não é e que a que prevalece é a legalista, normativa, de aparência e conveniência, o que, por si só não é ruim, assim como a mediocridade inicialmente não o é. Essa ética da mediocridade induz a não furtar itens de loja ou supermercado porque existem câmeras filmando, a usar cinto de segurança para não ser multado, por exemplo. Os resultados podem ser bons para a coletividade e até para quem não comete esses ou outros ilícitos – embora, inúmeros, na certeza de não serem filmados, flagrados e da ausência de testemunhas, fariam diferente, agindo de modo condizente com o seu verdadeiro e impublicável eu...   

Qualquer um pode aprender que a ética clássica contém ou é a síntese dos mais basilares, belos e viáveis pilares fincados nos fundamentos das correntes de pensamento a nortear a geração de excelentes pessoas, cidadãos, estudantes, voluntários, religiosos, pensadores, profissionais, empreendedores – para todos os necessários e dignos segmentos da sociedade. Que esta ética assentada nos áureos tempos da Grécia clássica e tão influenciadora da humanidade pode ser aprendida, independente de testemunhas, câmeras, multas e não sucumbe à vaidade e egoísmo: consiste em agir livremente por aquilo a que não se está obrigado, mas, se quer consciente e abnegadamente, sem esperar absolutamente nada em troca e, exatamente por isto, ser o grande beneficiado.

A palavra ética tem sua origem na palavra grega “éthos” que significa costume ou comportamento consciente do homem. Não é um mero elemento de fora que se incorpora ao comportamento humano e, sim, uma conduta escolhida de acordo com uma razão equilibrada. Quando o homem determina-se a si mesmo, guiado pelo seu espírito interior, a agir bem, esta atualizando o seu éthos. A ética é a ciência do éthos, da conduta humana ordenada. Dirige-se ao ser do homem e o leva a sua máxima perfeição (SERTEK, 2006, p. 23).

Que, embora desinteressante para gente que se contenta em ser medíocre ou é mau caráter, a ética clássica é a de verdade, da verdade e das virtudes. Estas, inicialmente difíceis ao nível da quase impossibilidade e que, com vontade e esforço constantes, gradativamente tornam-se cotidianas, sem recessos, não acessórias e essência da integralidade da pessoa.

As virtudes fundamentais da prudência ou qualidade de decisão, da justiça ou qualidade de relacionamento, da temperança ou qualidade emocional e da fortaleza ou qualidade de empreendimento das quais brotam as demais, tendo todas elas o tempero da virtude do amor, a maior dentre as três virtudes teologais, conforme o cristianismo: grandiosa, útil e arrebatadora, permite a quem tem fé confiar no mistério (Deus), a Quem não se vê em Quem se crê, e a todos, de quaisquer credos ou nenhum, crer nos resultados das suas escolhas; atrelada à esperança, segunda virtude teologal para cristãos e virtude essencial e real para todos – se, e somente se, vivenciada com ordem e método, vontade e esforço! Acrescente-se que:

Uma comunidade justa se realiza quando seus membros cultivam, cada um, o senso de justiça, agindo segundo o meio-termo, e quando todos os cidadãos têm recursos que os protegem, quando acontecem injustiças – o importante não é o estabelecimento de uma sociedade perfeita, mas sim que os erros possam ser corrigidos e os desequilíbrios decorrentes das ações injustas possam ser desfeitos. É verdade que as leis são fundamentais para  a proteção da justiça na sociedade: mas não se pode esquecer jamais que a justiça é feita no coração dos homens e das mulheres, e não no papel que usamos para anotar as  tantas regras de convivência que as modernas sociedades, tão complexas, precisam para se organizar. A verdadeira justiça nasce na alma, é um poder de deliberação cuja força provém do espírito. As leis devem ser seus auxiliares, guias de orientação, mas a fonte de onde brota a excelência da justiça reside mesmo no coração e na mente das pessoas (SHALITA, 2003, p. 132).

Apesar de a qualquer um ser possível constatar e aprender tudo isto, são demais os que permanecem aquém, cegos, indiferentes e até a desdenhar. É intrigante que a novidade – oportunidade, fato marcante, determinante – pode, mas, não necessariamente está em aprender mais. Está em, diante de saberes e situações cotidianas corriqueiras, gerar melhores percepções e atitudes, ou mesmo, finalmente, maravilhosamente, tê-las!

Vivemos vendo mais as embalagens e superfícies que conteúdos e profundezas dos outros e nos contentando com esse pouco em relação a nós mesmos. Age extremamente bem quem extrapola esse limite raso e se propõe a cuidar do próprio conteúdo profundamente. Propósito exigente e que resulta numa grande bênção, para além de conceito teológico, o que já não seria pouco – ainda mais se considerado em que consiste o antônimo dela. Por isto, à aquisição e ampliação constante, no patamar da excelência, de predicados técnicos crescentemente indispensáveis, acrescente-se o hábito de sentir, pensar e agir com intenção reta: isto é bênção! 

Escolher é preciso. Respeitar escolhas também!

Encontra-se quem garanta que a empatia inexista – ou outros bons sentimentos e atitudes – e que a esperança seria um engodo para iludir, contrariamente ao anteriormente exposto e proposto, e agora reiterado: esperança contém e é contida pela vontade fundamental e fundamentada de valorizar a própria vida, transformando dificuldades em oportunidades, erros em lições e aprendizados, ousando quebrar paradigmas, manias e modas; com a convicção de que com o irrefutavelmente impossível não existe razão para se desgastar além do natural, restando que tudo mais é possível ou pode vir a ser. “Algum dia, todos nós iremos morrer, Snoopy! Verdade, mas todos os outros dias não!” (Charlie Brown).

Respeitar escolhas é preciso. Escolher também!

 

Conclusão 

 

Este conteúdo não é ciência exata, mas, conduz a proporcionar ganhos concretos. Primeiro, é preciso ser percebido e instigar. Segundo, exige estudo e esforço para deliberar, decidir e agir, com vistas a mudar, compromissar, evoluir, desenvolver, inovar e realizar plenamente. Terceiro, gerando ganhos perceptíveis de imediato e gradativamente, demanda tempo para os maiores e mais notáveis resultados. Quarto, entender e estabelecer de antemão que não serão definitivos: alcançados e até superados os objetivos, celebra-los sempre incluirá o estabelecimento de outros, mais exigentes e mais realizadores.

Indispensável, inegociável e saudável respeitar os diferentes e divergentes e conviver com harmonia na diversidade. O primeiro patamar continuará sendo percebido por relativamente poucos, nem todos se instigarão suficientemente e avançarão; entre os que avançarem, vários vão desistir ao longo do caminho. Então, para os melhores relacionamentos e atividades – principalmente, no mundo corporativo e disputadíssimo de hoje – a concorrência real continuará sendo bem menor que a aparente...

Estratégias existem, entretanto, demandam estrategistas excelentes para que elas e eles alcancem a excelência: realização plena!

 

 

José Carlos de Oliveira

 

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