Gosto demais de ganhar chocolate. Lamento que a escravidão imposta pela sociedade de consumo, da qual quase toda a mídia é completamente cúmplice, faça vítimas quase todas as pessoas: das mais estudadas às menos cultas e instruídas; e inclua-se a maioria dos que se dizem cristãos.
Das que não sucumbem a mais essa escravidão, uma porção em verdade apenas não tem é dinheiro para gastar. Antes de caírem de quatro sob a miséria do consumismo desenfreado, sua miséria anterior e pior lhes impõe a falta de teto, de pão e de tudo o mais que todo ser humano deveria receber no curso da vida inteira. Quanto pior a condição de vida, quanto mais necessitada a pessoa, quando muito, salvo poucas ou parcas exceções, será destinatária de discursos bonitos e não necessariamente verazes e de abundância de orações dos mais diversos modos, ora sinceras, ora meras falácias e sinônimos de desculpas para esconder indiferença, comodismo e medo: dos que oram pelos que mais precisam e não justificam suas orações na prática, indo ao encontro dos mais necessitados, estando com eles, partilhando e compromissando-se com eles, sinceramente, e não somente para doações pontuais, aparecer em fotografias e selfies para redes sociais e jornais, cerimônias, celebrações religiosas e outros artifícios para satisfação do próprio ego e para fazer de conta perante os outros.
Jamais foi ou será diferente e quase tudo indica que continuará piorando. É mais fácil nadar a favor da correnteza, se esconder na mesmice da maioria. Não é por acaso que se diz que uma mentira bem contada e repetida à exaustão acaba maquiada e aceita como se verdade fosse; e que de tanto se acostumar ao uso de máscaras no cotidiano, impera a hipocrisia disfarçada de honestidade. Por essas e outras um hábito, por mais tolo e nocivo que seja ou possa ser em caso de exagero ou equívoco na sua compreensão, seus adeptos, quando maioria, parecem ser os corretos; e os divergentes parecem ser chatos, doentes, estranhos, preconceituosos, retrógrados etc.
Assim mesmo, quando me parece adequado, esforçando por respeitar a lei civil e a fundamentação bimilenar do cristianismo, estudando e buscando conhecer, entender e disseminar cada vez mais esta, especialmente, assumo o risco de ser minoria ou exceção e provocar fraternalmente a maioria de desavisados e acomodados de boa vontade, ciente de ser sujeito às naturais e respeitáveis críticas e até às retaliações de uns que nem boa vontade tem.
Ovos de chocolate podem ser símbolos da Páscoa, e são, desde que coadjuvantes. Outros símbolos são muitíssimo mais importantes e representativos. E nenhum deles exige um centavo sequer; ou, se tanto, uns poucos reais para a sua confecção.
Milhões de crianças e adultos seriam incapazes de dizer que a Ressurreição de Jesus Cristo é a festa máxima do cristianismo e seu pilar (os irmãos mais velhos na fé, os judeus, comemoram a libertação dos israelitas da escravidão no Egito). Crer e celebrar Sua passagem (significado de Páscoa) desta para a melhor (vida eterna), insisto, não exige nenhum centavo e a satisfação pode ser infinitamente mais saborosa que o mais caro e requintado chocolate. Celebra-se a Páscoa d’Ele na esperança da nossa. E enquanto ela não vem – e é natural que ninguém tenha pressa que ela se apresente – podemos melhorar gradativamente o nosso sentir, pensar e agir para, em se confirmando a existência de uma vida melhor que esta, eterna, façamos por merecê-la. Isto é fé, conforme o cristianismo.
As outras grandes religiões, quando bem compreendidas, possuem alguma convergência: viver bem aqui pavimenta o encontro com o Criador, mesmo que as concepções doutrinárias de cada qual tenham suas particularidades.
Aos que descartam que haja vida eterna, moral e ética bastariam para respeitar os que a esperam, e para que todos vivessem em harmonia e unidade, apesar das suas diversidades.
Gosto de dar e ganhar chocolate. E junto, e antes, e acima dele, clarificar que é mero coadjuvante ante Aquele que é a única indispensável presença quando vem a Quaresma, a Semana Santa, a Vigília das Vigílias, o Domingo da Ressurreição e o Tempo Pascal que estende a Páscoa por mais algumas semanas. Tudo bem compreendido, celebrado e aceito, aliás, cada ano, vai se inserindo e enraizando nos demais dias do ano, a vida toda. Não tanto pelo bem d’Ele, e sim pelo bem dos que n’Ele creem.
Para evoluir de apenas acreditar para crer, é preciso tentar equilibrar o transracional com o racional; o que exige embasar fé e oração com estudo permanente em fontes seguras e a isto pouca gente se dispõe; ou, entre os que tentam, vários não aprendem ou depreendem com mais acertos que erros, ou não são fieis, equilibrados, perseverantes. Multidões se contentam com a fé cega, sem embasamento e repleta de superstições, de si e dos que os influenciam, vivem à mercê das influências do mundo secular com sua indústria cultural no qual Deus não cabe e das más intenções dos picaretas e pilantras auto proclamados homens e mulheres de Deus e Seus tesoureiros!...
Dizer ser cristão é fácil e até eu digo ser. Difícil é ser cristão e sinto isto na própria pele. Tenho tentado mais ser do que apenas dizer e parecer ser cristão. E você?
É sempre válido ponderar sobre o valor de uma pessoa que não professa fé e não adere a uma religião, mas, é e se vai aperfeiçoando como sendo extremamente moral e ética; ou seja, honesta, trabalhadora, estudiosa, solidária, empática, justa, pacífica e abnegada (que serve e ajuda sem aparecer e sem esperar nada em troca), enfim, interessada no bem estar das pessoas que mais precisam e de toda a sociedade. Por outro lado, quanto crente cristão ou de outra religião está ainda muito aquém de ser assim, não passando de só mais um interesseiro...
A cada um é dado o direito de escolher vir a ser cada vez menos interesseiro e cada vez mais interessado no que é bom e justo, segundo o senso comum, para vir a ser intensamente interessante. E se depois constatar que verdadeiramente existe a tal vida eterna, como já dito, desfrutar das consequências do que andou plantando enquanto existiu por aqui...
Feliz Páscoa!
José Carlos de Oliveira